domingo, 12 de setembro de 2010

Foto Síntese


Na foto síntese dos dias, vi
Descolando o papel de parede do céu...


Descascando a pintura da parede da casa de Deus...


Quem foi que apagou a linha do horizonte?
Que pintor foi esse que emendou céu com mar,
que fez do meu mar, minha paixão, meu amor?...

José Antonio Klaes Roig

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Arrebatamento

As linhas
Do teu corpo,
Desenhadas,
Como que talhadas
Por um deus
-com se tu fosses, na verdade,
Um anjo

Tanto que os lençóis
Em meu, antes, solitário leito,
São agora como que nuvens

E tu lá,
Serena

De tão puro e calmo,
Mais parecia que tu havias
Arrebatado a minha, antes, taberna,
Agora, templo teu,
Aos céus de tua também, antes, solitária morada

Em um súbito instante,
Porém, quase infinito,
Perco-me de mim e de tudo

O antes tão conhecido quarto,
É, agora, um mistério inteiro e sem fim
Em que só o teu cheiro me é familiar

Eu que agora aprenda a navegar.

07/09/2010
18:40

domingo, 5 de setembro de 2010

névoa

Os ténues vestígios,
as ternas aves que te semeiam,
os rastos,
espumas de declives
que ainda reténs,
levam-te à circular demência;
mas essa - nebulosa, bem sabes - aspira-te o colo,
e as ervas, os galhos, os troncos,
já nem espalham horizontes;
sobrar-te-á, talvez,
a prisão,
uma janela à beira-mar,
drapejada de glicínias...
uma espera no riste do vento
que, só ele,
te perdoa as intempéries. 

(imagem: foto do autor tirada
com telemóvel, local: S. Pedro de Moel,
distrito de Leiria, Portugal)

domingo, 11 de julho de 2010

Dos motivos.

Para Pedro Hálamo, pelo seu aniversário

−Vamos!
Os pássaros cantam;
As folhas estão caindo;
O vento não sopra ao nosso favor
Mas é tão bom senti-lo bater no rosto:

−O céu está aberto
E hoje é dia de viver!

Os relógios são loucos
Gritando mensagens apocalípticas
De universos mortos:

−Nós estamos vivos
E hoje é dia de viver!

O que se vê do futuro não importa.
O que se recorda do passado não ensina.
O que se pensa do presente não guia:

−Hoje é o dia!

Se for pra beber
Que seja até a ultima gota.
Se for pra respirar
Que seja do mais profundo suspiro.
Se for pra viver
Que seja segundo por segundo.

Quanto mais se vive
Mais se quer viver.
Nessa eterna noite mal dormida,
Nesse eterno embriagar-se e se perder:

−Viver!


Cegos? mais vale o brilho no olhar e o sentimento de estar vivo sentindo a existência riscar na pele os sulcos do inesquecível

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Jardineiro

Amar
De olhos fechados é mais fácil.
Enquanto as bocas se beijam,
As palavras se calam.

Sonhar
De olhos fechados é mais seguro.
Enquanto os planos dormem,
Os erros se perdem no escuro.

Os beijos platônicos
Estão esquecidos nas gavetas do possível.
Todos os enganos,
Feitos de frutos mal escolhidos,
São os sonhos que o destino
Não fez a vida sonhar.

E o jardineiro,
Podando as rosas,
Cortando as venenosas,
Não espera belas ou cheirosas.
Porque rosa que é rosa,
Em si, só nasce rosa.

(escrito originalmente em 23 de setembro de 2009)

domingo, 11 de abril de 2010

águas latentes

Sonho-me às vezes rei, nalguma ilha,

Muito longe, nos mares do Oriente,

Onde a noite é balsâmica e fulgente

E a lua cheia sobre as águas brilha...

(Antero de Quental, Sonetos)

Encosto os joelhos ao queixo,
as águas acariciam-me.
Pra trás, ao fundo,
entre palmeiras duvidosas,
caminhos toscos,
batem, chocalham,
as canecas da alegria
dum povo que desejo feliz.
Do poder, da posse,
apenas desejo a noite balsâmica,
fulgente,
e nas águas brilhantes,
quero a Lua pra nela brincar,
em jeito de menino,
porque agora, aos meninos,
cegaram-se as vistas;
e na minha ilha,
a oriente de todos os sonhos,
de todos as visões,
está a minha majestade ignorada,
o meu poder apagado,
a inocência diluída.





(fonte da imagem:
http://osaldanossapele.blogs.sapo.pt)

sábado, 10 de abril de 2010

O Azul.

                                                                        Imagem tirada por mim em dezembro de 2009

Alegria é
Um céu azul e limpo
De nuvens brancas e leves.

Serenidade é...
O vento que leva;
O passo lento e breve.

Sem saber pra onde ir
Sem querer chegar

Minha alma se ELEVA
E se desfaz em vapores de alegria
Depois... Chora
E desce MURCHA
Mas encharcada de nostalgia.

Sob o céu eu me deito
E adormeço
Sobre o céu em que me perco.


Porque o azul é sempre mais azul quando no céu esta com nuvens de branco tão leve que paresse nos elevar, só de o contemplarmos.
(escrito originalmente em 24 de julho de 2009)


Rafael dos Santos M.

sábado, 20 de março de 2010

Adeus

Não há como dizer Adeus
Sem tocar em feridas
Embora o negativismo da alma aumente nossos sofrimentos
A realidade usada através da razão
Nos convence depois da superação.

Não há como dizer Adeus
Sem despedir-se de lembranças
De momentos felizes
Das horas tristes
De saudades.

Não há como dizer Adeus
Sem refletir sobre o amanhã
Sem apegar-se a rotina anterior
O frio na barriga que os cerca é sem fim a falta de coragem
Desapegar-se ao passado é uma batalha.

Não há como dizer Adeus
Sem já sentir saudades dos olhos teus
Do cheiro... da pele... dos lábios...
Os sorrisos, gargalhadas e brigas
De tudo aqui que fora importante e se foi distante!