Ela disse papel quando queria dizer tesoura.
Ele retribui-lhe o jogo de palavras dizendo pedra
quando queria mesmo falar em flor.
Ela olhou para o jovem num brilho intenso de sol,
mas suas palavras vagaram pelo céu da boca
de forma burocrática e sem sal...
Ele quis comentar com a garota de seus sonhos
que os olhos dela eram profundos como o mar,
mas as suas palavras ficaram congeladas
apenas na superficialidade de um iceberg
vagando sem destino num copo de cerveja polar...
A história de homens e mulheres
é escrita mais com silêncios do que discursos;
mais com dúvidas do que certezas.
Quando a boca da amada diz não,
seus olhos contraditórios dizem talvez;
quando ele investe na conquista,
teme o não da bela, adormecida em seu sonho,
mais do que a ira de um exército de bárbaros,
destruindo tudo o que encontram ao redor.
Entre o pensar, o falar e o escrever
há uma estranha língua secreta
que ninguém ousa psicografar,
e que nenhum iniciado poderá decifrar.
Somente os poetas e os loucos veem algo
onde nada é dito nem declarado...
Tudo é subentendido, implícito, tácito...
Apenas os sonhadores vivem para acreditar
que as palavras podem transformar o mundo.
Há uma língua secreta a ser decodificada
toda vez que alguém se cala dentro si
e apenas consigo mesmo consegue dialogar.
Há um código secreto vivo na linguagem
toda vez que alguém diz algo sem sequer falar...
José Antonio Klaes Roig
Obs.: Imagem extraída da internet, endereço abaixo
http://proudworld.blogspot.com/2008/02/menina-trabalhadora-e-senhora-dvida.html