quarta-feira, 1 de abril de 2009

A língua secreta


Ela disse papel quando queria dizer tesoura.
Ele retribui-lhe o jogo de palavras dizendo pedra
quando queria mesmo falar em flor.
Ela olhou para o jovem num brilho intenso de sol,
mas suas palavras vagaram pelo céu da boca
de forma burocrática e sem sal...
Ele quis comentar com a garota de seus sonhos
que os olhos dela eram profundos como o mar,
mas as suas palavras ficaram congeladas
apenas na superficialidade de um iceberg
vagando sem destino num copo de cerveja polar...
A história de homens e mulheres
é escrita mais com silêncios do que discursos;
mais com dúvidas do que certezas.
Quando a boca da amada diz não,
seus olhos contraditórios dizem talvez;
quando ele investe na conquista,
teme o não da bela, adormecida em seu sonho,
mais do que a ira de um exército de bárbaros,
destruindo tudo o que encontram ao redor.
Entre o pensar, o falar e o escrever
há uma estranha língua secreta
que ninguém ousa psicografar,
e que nenhum iniciado poderá decifrar.
Somente os poetas e os loucos veem algo
onde nada é dito nem declarado...
Tudo é subentendido, implícito, tácito...
Apenas os sonhadores vivem para acreditar
que as palavras podem transformar o mundo.
Há uma língua secreta a ser decodificada
toda vez que alguém se cala dentro si
e apenas consigo mesmo consegue dialogar.
Há um código secreto vivo na linguagem
toda vez que alguém diz algo sem sequer falar...

José Antonio Klaes Roig

Obs.: Imagem extraída da internet, endereço abaixo
http://proudworld.blogspot.com/2008/02/menina-trabalhadora-e-senhora-dvida.html

3 comentários:

Jaime A. disse...

Só os sonhadores vivem para acreditar que as palavras podem mudar o mundo, são os poetas. E com que palavras se pode animar ou destruir uma vida?
Progiosa imaginação para uma magnífica fotografia.
Parabéns, José!

José Antonio Klaes Roig disse...

Oi, Jaime. As palavras não dão conta do pensar, mas sem o pensar não existe a poesia... O devaneio poético é o sonho acordado que o poeta tem de um dia poder voar. Enquanto não lhe crescem as asas, ficam só as folhas de papel pra consolá-lo. Doce consolo em dia de vendaval... Um abraço,

bonecadetrapos disse...

Só me ocorre uma palavra... duas, talvez: todo o sentido.
Um poema com estética e com mensagem.

Peço-lhe que me deixe, pf., colocá-lo na lateral do meu blog, onde divulgo poesia que me toca ... poetas, uns mais, outros menos, conhecidos.


Saudações com estima
*__bonecadetrapos___*